quinta-feira, 1 de abril de 2010

Os fumantes que me desculpem. Mas, sim, eles estão errados


Não tenho nada contra os fumantes. Pelo contrário, tenho, sim, muitos amigos que, infelizmente, fumam. Também não me oponho ao desejo que eles têm de envolver-se em uma constante nuvem de fumaça, como se estivessem no meio de uma plantação de cana-de-açúcar ardendo em chamas, como vemos constantemente à beira das estradas, respirando as delícias e maravilhas daquele ar altamente contaminado.

Mas, tenho, sim, o direito de reclamar do fato de as pessoas que fumam não respeitarem os seus próximos, como se consumir fumaça fosse algo bom para os dois segmentos: o dos que tragam e o dos que apenas inspiram um ar já maleficamente poluído.

Não quero aqui nem comentar o incômodo que nós, não fumantes, sentimos quando somos obrigados a fumar indiretamente. E dizem que o mal maior fica para nós, que não temos nada a ver com este vício. Também não quero me referir à descrição feita por alguém, no sentido de que uma pessoa que não fuma e que vai beijar outra que o faz, estaria, na verdade, dando um longo e sexy banho-de-língua em um atraente cinzeiro. Pois deve ser exatamente esta a impressão de alguém livre do vício ao beijar um fumante. Assim, apenas peço permissão para elencar alguns dados que podem transformar a vida de um fumante em um inferno interminável, quente e ardente.

Gostaria, então, de me reportar a uma pesquisa feita pela empresa Catho Online, publicada em junho de 2009, junto a 16.207 pessoas, segundo a qual 83,2% dos presidentes e diretores de empresas apresentavam fortes restrições na hora de contratar gente que engole fumaça. A sondagem mostrou que ao fazer a opção por um empregado que não fuma, a empresa estaria evitando a ocorrência de absenteísmo, seja aquele motivado por longas ausências para tratamento do próprio vício, ou mesmo devido às frequentes interrupções que ocorrem quando o funcionário sai para dar as suas tragadas.

A pesquisa mostrou, ainda, que a cada dia os fumantes vão perdendo lugar entre os que podem ser aceitos normalmente nas organizações empresariais. Assim, em 2003, um percentual de 44% dos diretores e empresários já prenunciava as graves objeções aos esfumaçados, número que saltou para 83,2% há um ano e que certamente é bem maior nos dias atuais. Afinal, parece que o cerco está mesmo se fechando para os enfumaçados.

A enquête apontou, também, que quanto maior for a empresa contratante, mais duras e rígidas serão as regras na hora de contatar pessoas. Provavelmente haja muitas delas, principalmente as das áreas de saúde ou de instituições ligadas a igrejas, que não admitem nenhum fumante em suas fileiras. Porém, se a pesquisa da Catho Online apontou algo semelhante não saberemos, pois nenhum dado a respeito foi publicado.

Porém, o significado do provérbio “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” esteja mesmo valendo para os responsáveis pela contratação de pessoas, porque eles próprios, embora não contratem fumantes, estão, por sua vez, entre os amantes inveterados do cigarro, a ponto de 18,5% deles tresloucadamente engolirem fumaça quando têm a chance de fazê-lo.

Tempos atrás li em uma revista um texto interessante. Segundo a matéria, um sujeito para o qual restava praticamente apenas 70% de seu corpo devido às constantes mutilações que sofreu em decorrências de doenças causadas pelo fumo, havia entrado com um pedido de indenização milionária por ele ter chegado àquele ponto por causa do cigarro. A empresa, é claro, ganhou a causa – decisão com a qual também eu concordei -, porque a Justiça entendeu que o mutilado não foi por ela obrigado a fumar. O que ocorreu foi apenas do fato de a vítima, naquele caso, ter aplicado a lógica imortalizada por Jânio Quadros: “fi-lo por que qui-lo.”

Há alguns anos, quando ainda era permitida abertamente a propaganda com o objetivo de engrossar as fileiras, de modo a conquistar novos membros para o clube da fumaça, li também um anúncio em que uma empresa estimuladora do tabagismo mostrava uma bonita arte publicitária para uma de suas marcas de cigarro, com a seguinte inscrição logo abaixo do maço: “Garantimos a qualidade de nossos produtos.” Para bom entendedor, meia tragada basta.

Alcides Mazzini é professor, jornalista, radialista, músico e diretor da Universidade Aberta da Melhor Idade (UNA).

3 comentários:

  1. Parabéns Prof. Alcides Mazzini pela estreia do seu Blog, agora o senhor é um blogueiro nato.

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  2. Grande Mazzini, talvez nem se lembre de mim, pois tivemos poucos contatos no Senac. Acabei trabalhando por 15 anos no Senac de Bauru com o seu amigo Bottaro.
    Parabéns pelo blog e escreva mais sobre música, minha paixão também.
    grande abraço

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  3. joia! ACABO de postar entrevista que fiz com o ator global CARLOS VEREZA, vale a pena ler,na AGENDA,em telescopio.vze.com
    telescopio.vze.com /avise amigos....VIDEOS COM CARLOS VEREZA - e de quebra, um texto meu sobre A MORTE DO MEU AMIGO RAYMUNDO ARAUJO..

    abçs everi carrara
    que nara leão nos ilumine sempre!!

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