sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A gente vai estar estando...

Sabe c’umé, né? Valeu, cara! Pimba na gorduchinha! Sacou, mano? Chique no úrtimo...A gente vai tá fazendo.. Analisando esta sequência insólita de modismos e banalidades que assolam a estrutura da nossa bela língua portuguesa só faltou o aperfeiçoamento e progressão naturais da Nova Inteligência que adotará a frase “a gente vai estar estando...”. Mas pelo andar da carruagem vamos chegar a isso e em muito menos tempo do que pensamos.

Meus Deus, o que fizeram com a última flor do Lácio, o nosso idioma de todos os romances, poesias, belezas e encantamentos? Que destino cruel decretaram para a língua de Camões, Machado de Assis, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Rachel de Queirós e tantos outros mestres na arte de escrever?

Confesso que ando amedrontado com o que leio e ouço das pessoas, principalmente quando estão se comunicando de maneira informal, livre e solta. Parece que foi instalada de vez a ditadura da pobreza educacional e da mediocridade intelectual.

Excetuando-se as escolas, revistas, jornais, outras formas de mídia respeitáveis e as instâncias onde o rigor gramatical precisa ser observado, porque é fonte de aprendizado, cultura e identidade – e exatamente por isso se transformam nos últimos bastiões da integridade de nossa língua -, o que resta e se nota é algo de estarrecer até os mais incultos dos seres falantes.

O empobrecimento da fala e da escrita é uma realidade inconteste. Às vezes, por mais que se tente ler e entender o que algumas pessoas querem dizer quando escrevem ou falam, mais chegamos à conclusão de que a língua utilizada neste “esforço” não é o idioma português. O despreparo é flagrante e o desconhecimento de regras elementares de gramática, principalmente concordâncias e regências, simplesmente vexatório.

As pérolas reunidas em programas de humor sobre o que os alunos escrevem em vestibulares são incríveis. E, neste caso, não se revela apenas o fato de que alguém não sabe escrever ou falar, mas o de não fazer a menor ideia sobre pontos e matérias cujo teor, contexto e conteúdo os estudantes deveriam dominar quando aspiraram a graus superiores de ensino.

Ao que tudo indica, parece estar ocorrendo um devastador processo de avacalhação de conhecimento, imposto por novos e infames costumes, que vem se instalando e, paulatinamente, ceifando as últimas fronteiras do que seria o lógico e o minimamente aceitável. Os meios de comunicação de massa e os modismos se encarregam de a cada dia criar neologismos, a maioria sem utilidade e sem sentido. Os jovens adotam e introduzem gírias criando seu próprio dialeto e o internetês se transformou em uma espécie de língua paralela, porém entendido como sendo uma vertente de nosso idioma, o que é mais desolador.

O que se percebe é que novos termos e expressões são introduzidos e ficam valendo no processo de comunicação. A isso se soma a preocupação de que, segundo estatísticas, o universo vocabular médio e geral de uma pessoa comum, no Brasil, gira em torno de 300 palavras. Ou seja, um cidadão brasileiro usa para sua comunicação no trabalho, na família, no seu círculo de amizades e na sociedade algo próximo de apenas 300 palavras.

A culpa nem é das escolas e dos professores que trabalham nas primeiras fases do aprendizado, pois nestas instituições ainda existem aqueles que se dedicam ao ensino com responsabilidade, procurando transmitir aos alunos a importância daquilo que ensinam. Até porque não se pode admitir que diante de uma classe de alunos não haja um docente preparado, conhecedor de sua profissão. O problema está mais no aluno, por conta dos vícios que ele adquire fora da escola e dos modismos e posturas inconsequentes que adota no seu dia a dia.

Deve-se enaltecer e levar em conta, é claro, as manifestações de interesse de pessoas ávidas por aprender e por buscar alternativas através das quais possa ir assimilando novos ensinamentos. Isso se dá, por exemplo, através da leitura de bons textos, como aqueles dos bons romances, das belas e perfeitas poesias, das excelentes reportagens em revistas e jornais de credibilidade. Ou seja, o estudante não deve depender só da escola para aprender, pois grande parte de suas conquistas precisa vir de sua vontade própria, de sua sede pelo saber, de sua curiosidade e de seu desejo de crescer intelectualmente.

A situação no trato do nosso idioma é tão grave que há algum tempo o ex-governador do Distrito Federal, não contente com as respostas frequentes de seus colaboradores, que às suas indagações e questionamentos lhe respondiam sempre com um invariável “estamos providenciando”, demitiu sumariamente a figura do gerúndio. Provavelmente, o que o governador, ele próprio desorientado e pouco apegado ao intelecto, queria mesmo era defenestrar o gerundismo, este sim uma praga crônica da atualidade, em que os desavisados falam coisas do tipo “a gente vai tá fazendo...”

A rigor, o gerúndio é um tempo verbal legítimo que utilizado de forma correta e adequada é perfeitamente legal. Mas a pergunta que não quer calar é: e agora, o que mais virá por aí em termos de sandices, imbecilidades, idiotices, vulgaridades e babaquices?

Um comentário:

  1. Intão a gente vamus istandu lendu, uai siô!
    Digo: o senhor escreve pra caramba! Eu o sigo pelo jornal.
    Se me vou me dando tempo, passo por aqui para indo lendo.
    Abração

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